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mmichelsohn

Sol Negro: A Ferramento do Método Stutz contra Vícios

Atualizado: 16 de jun. de 2023

Experiência com uma ferramenta do Método Stutz pra me livrar do hábito de ler notícias e mensagens no banheiro.



Descobri The Tools através do filme documentário, “O Método Stutz”, dirigido por Jonah Hill e disponível na Netflix (dezembro de 2022). The Tools são ferramentas criadas pelo Dr. Phil Stutz para ajudar seus pacientes a lidarem com as causas de seus problemas e para ajudá-los a viver plenamente.


Enquanto assistia o filme, senti algo em meu corpo, como um conforto. E me veio um pensamento: “Se for para ser um terapeuta assim, eu topo!”. Me formei em psicologia em 2000 porém não fui para a clínica. Trabalhei em organizações privadas globais, em ONGs locais e em consultorias. Em 2012, quando meus filhos tinham 3 e 1 anos de idade, e percebendo que eu não era o pai que sonhava em ser, comecei a estudar sobre parentalidade. Descobri o “Hand in Hand Parenting” da Patty Wipfler e depois de me formar em 2013, lancei o Conexão Pais e Filhos, um processo de apoio para mães e pais de filhos pequenos, entre 0 e 8 anos.


Este trabalho me reaproximou da clínica apesar de não ser um trabalho clínico stricto sensu. Em 2015 comecei a trabalhar junto com Ana Thomaz, tanto em grupo, quanto atendendo indivíduos. Aprendi algumas ferramentas importantes, como o espelhamento, entre outras. Em 2019, muitos pais começaram a me pedir atendimentos para o casal, mesmo porque eu já vinha percebendo a interrelação entre as questões dos filhos e o relacionamento dos pais. Esse sim, era um trabalho mais clínico, porém eu resistia com todas as forças, dizendo que só faria entre 1 e 3 atendimentos e que depois o casal deveria andar por conta própria.


Uma parte minha não gosta da ideia de fazer processos longos, nos quais os pacientes ficam dependentes do terapeuta. Ao longo da minha vida, tive a oportunidade de conhecer pessoas incríveis que criavam ou pelo menos praticavam processos de desenvolvimento de forma autônoma e foi isso que eu sempre fiz. Portanto, quando assisti o Método Stutz e percebi que Phil desenvolveu ferramentas para as pessoas utilizarem sozinhas, no dia a dia, ao longo da vida, percebi que meu processo pessoal não era tão estranho.


Uma semana depois de ver o filme, terminei de ler o primeiro livro de Phil Stutz e Barry Michels, “The Tools” de 2012 e duas semanas depois acabei de ler “Coming Alive” de 2017. Enquanto lia e desde então, passei a utilizar as ferramentas em mim, sempre que a oportunidade se apresentava e eu me lembrava.


Por sugestão dos autores, escolhi algo pequeno, mas importante para trabalhar. Percebi recentemente, que sempre que ia ao banheiro, levava meu celular e ficava olhando as notícias, seja no twitter, google ou youtube. Em um momento, me dei conta que fazia isso inclusive durante os segundos enquanto estava de pé, urinando.


A ferramenta mais indicada para lidar com esse tipo de vício é o Sol Negro (Black Sun). Todos nós temos algum tipo de vício, pois fomos criados em uma sociedade que vende a satisfação imediata. Uma parte nossa, chamada por Phil de Parte X, nos diz coisas como: “Após um dia de trabalho, quem não merece comer um pote de sorvete?”, “Só mais um vídeo pornô, e eu paro para sempre. Deixa de ser moralista”. E de pouco em pouco vamos nos tornando auto-indulgentes. E isso tem uma consequência enorme para nossas vidas: aguentamos cada vez menos qualquer tipo de frustração. Queremos que o restaurante entregue a comida rapidamente, se o carro na nossa frente é “muito lento”, buzinamos e xingamos, se não fui promovido em 3 meses, peço demissão, etc.


A questão deixa de ser apenas os 20 segundos de notícias no banheiro (o que já seria motivo suficiente para fazer algo a respeito), mas passa a ser toda uma atitude diante da vida que fica variando entre auto-indulgência para todo tipo de vícios e distrações de um lado, e impaciência e baixa tolerância a frustração de outro.


Resolvi experimentar. Toda vez que eu colocava a mão no bolso para tirar o celular e ver as notícias ou mesmo quando apenas pensava nisso, eu dizia “não”, fechava os olhos e fazia a prática. Dizer apenas “não” e confiar apenas no autocontrole não funciona. Acredite, eu já tentei. Assim que o stress aumenta, assim que o cansaço bate e nossas defesas enfraquecem, o hábito volta com tudo. Por isso é preciso dar um passo a mais: usar a ferramenta.


O Sol Negro tem uma preparação e depois 4 partes (você pode usar na hora que o hábito acontecer, ou apenas trazendo o mesmo para sua mente)


Preparação: Perceba ou traga à tona o hábito/vício com o qual você quer trabalhar e faça a vontade de realizá-lo chegar ao máximo, como se você realmente precisasse fazer isso agora: “Tenho que ver as notícias pois se não vou perder algo fundamental e urgente!” Sinta essa vontade com o corpo.


1- Privação: não permita que a ação aconteça e sinta a frustração de não ter comido aquele chocolate, de não ter assistido mais um capítulo da série, etc. Uma parte sua vai falar coisas como: é rapidinho e é super importante ficar bem informado e não vou mais olhar hoje. Não ceda e sinta a frustração aumentando.


2- Vazio: agora imagine que tudo sumiu. Esqueça da coisa que você queria ter ou fazer. Esqueça que existe o mundo todo. Apague o externo. Volte-se para o seu interior e perceba que onde existia o sentimento de frustração, agora é um vazio. Encare o vazio com calma e quietude.


3- Plenitude: Do fundo do vazio, imagine um Sol Negro (como se fosse um eclipse, no qual você vê um disco escuro porém com as bordas luminosas) crescendo dentro de você, até vocês se tornarem um.


4- Entrega: volte sua atenção para o mundo exterior. A energia do Sol Negro vai fluir através de você e quando entrar no mundo será uma luz clara e pura de entrega infinita.



Eu fiz isso por 3 dias, umas 3 vezes ao dia e então me surpreendi quando entrei e saí do banheiro sem nem pensar no celular e nas notícias. Não acredito que meu vício em notícias vai passar assim tão rápido, mas eu senti que dei um primeiro passo.


O interessante é que além de transformar um hábito e diminuir a auto-indulgência, comecei a sentir mais energia e foco para fazer as coisas que são realmente importantes. Por exemplo, após 2 anos, senti energia e vontade de escrever um texto, este que você está lendo.


Como Phil e Barry explicam, é preciso prática constante, sem expectativa, mas com atenção. Não sabemos o que vai acontecer se nos dedicarmos a uma vida de auto-observação e transformação, mas muitos de nós sentimos que é possível viver uma vida mais plena do que a atual. E é mesmo.


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