É possível resgatar rapidamente a conexão, a criatividade e a alegria de viver nas crianças. Em minha jornada como conselheiro familiar, vejo isso acontecer diariamente. Quando Ana e Carlos chegaram até mim, estavam preocupados com Bella, sua filha mais velha de 9 anos. Bella não tinha amigos na escola e estava sempre mal humorada e desobediente em casa. Nada estava bom. Nada servia. Tudo era uma luta e isso deixava o clima da casa muito pesado.
Como todos os pais, eles estavam tentando de tudo para ajudar a filha, mas geralmente caíam em padrões que além de não ajudar, atrapalham. Coisas como prêmios, punições, argumentos e brigas não funcionam no longo prazo.
Patty Wipfler, a fundadora do Hand in Hand Parenting, desenvolveu ferramentas que podem nos servir de mapas para aos poucos transformarmos nossa relação com as crianças. Essas ferramentas foram criadas por ela na sua prática com os filhos e após 30 anos continuam ajudando mais de 500 mil famílias. Apresentei duas dessas ferramentas e pedi para usarem uma combinação de "Brincar Escutando" e "Colocar Limites e Escutar as Emoções". Se você quiser saber mais sobre as ferramentas, baixe meu ebook gratuito.
Brincar-escutando: gargalhadas que aquecem a alma
Ana e Carlos embarcaram nessa jornada. Carlos começou a usar a técnica de "Brincar Escutando" com Bella, fazendo com que ela se sentisse mais segura para extravasar suas emoções de uma maneira saudável. Um exemplo disso foi quando Carlos criou uma brincadeira em sua cama, na qual Bella e sua irmã tinham que pegar um objeto antes da aranha (Carlos) pegá-las. As irmãs se uniram contra o pai nessa brincadeira. Isso é muito importante para diminuir a rivalidade entre as irmãs (leia mais sobre isso no texto “Como Diminuir a Rivalidade Entre Irmãos”). Essa brincadeira não só trouxe risadas e união, mas também fez com que a hora de dormir se tornasse um momento de conexão e tranquilidade. Algo bem raro e contra-intuitivo. Todos achamos que não podemos agitar as crianças à noite, porém se você fizer uma brincadeira vigorosa 1 hora antes de dormir e depois deixar 30 minutos para a rotina de se acalmar, as crianças tendem a relaxar e adormecer muito mais rapidamente.
Colocando Limites e Escutando as Emoções: como ajudar os filhos a acessarem sua cura natural
Expliquei a Ana que, ao iniciar a jornada de estabelecer limites, Bella provavelmente passaria por várias etapas. Como uma tempestade que se forma, Bella inicialmente protestaria. Em seguida, tentaria escapar da situação. Poderia até mesmo não querer a presença de Ana durante esse período. No entanto, se Ana mantivesse o limite, Bella começaria a chorar e/ou gritar coisas difíceis para a mãe ouvir. Apesar de ser um momento desafiador, é uma parte crucial do processo. Depois de extravasar, Bella iria se acalmar e restabelecer o contato visual com a mãe. Finalmente, Bella ficaria tranquila durante o resto do dia, como um céu sereno após a tempestade. E o mais importante é que você é a pessoa que está de “mãos dadas” com ela enquanto atravessa a tempestade. O seu vínculo com a criança aumenta tremendamente, pois ela sente que você está ao lado dela para o que der e vier.
Ana começou a colocar limites e a escutar as emoções de Bella. Um exemplo disso foi quando Bella assistiu 40 minutos de desenho, e quando era hora de desligar e sair para caminhar, Bella reagiu negativamente. Ana manteve o limite e Bella fugiu para o quarto gritando. Ana foi atrás e entrou no quarto, permaneceu firme e ficou com Bella, mesmo quando Bella tentou fugir e disse coisas difíceis como “Isso é um inferno”, “Você é a pior mãe do mundo”.
Não leve essas ofensas para o pessoal. Nesta hora a criança está em um turbilhão e vai falar coisas que não tem a ver com você e nem com o que gerou a raiva. O sistema dela está colocando para fora emoções de dias, meses ou anos. Aguente firme. Eu fico na frente dos meus filhos pensando: “Melhor que isso esteja saindo deles e vindo em minha direção do que isso ficar num círculo vicioso dentro do sistema deles, atrapalhando suas vidas!”. É só ficar ouvindo, confiando no processo dela e pensando algo como a frase acima.
Depois disso, Bella se acalmou, restabeleceu o contato visual com Ana e, como se nada tivesse acontecido, saiu do quarto e passou o resto do dia em paz. Quando as crianças não estão bem, elas não conseguem manter contato visual conosco. Depois de um bom extravasamento, a conexão e a confiança voltam e então o contato visual é reestabelecido.
Essas estratégias, embora desafiadoras no início, começaram a transformar a vida de Bella e de sua família. Bella começou a se abrir mais, compartilhando seus sentimentos e preocupações com seus pais. Ana e Carlos, por sua vez, aprenderam a acolher e a escutar as emoções de Bella, criando um ambiente mais seguro e amoroso para ela.
Confiança para trazer temas difíceis
Em uma ocasião, Bella disse para Ana que se sentia sozinha na escola. Ana, lembrando-se de minha orientação para acolher sem oferecer soluções, simplesmente ouviu e acolheu Bella. Isso não foi fácil para Ana, pois ela queria resolver o problema de Bella, mas entendeu que o mais importante era estar presente para Bella.
Em outra ocasião, Bella estava resistindo a usar um creme recomendado por sua médica. Ana percebeu que Bella estava buscando um confronto e decidiu colocar um limite. Bella reagiu intensamente. Ana se manteve firme, mesmo quando Bella começou a querer bater. Sim, algumas crianças que acumulam raiva podem querer bater nos pais neste momento. Fique atenta. Mantenha uma distância segura, ou longe dos golpes ou bem perto do corpo. Se possível deixe a criança fazer os movimentos. As emoções estão presas no corpo e são liberadas através deste movimento. Eu, por exemplo, abro as mãos de forma espalmada e deixo eles socarem como um lutador de boxe com seu treinador. No final, quando Bella já estava mais calma e olhando nos olhos de Ana, Ana pediu um abraço, que foi um momento de conexão muito especial entre elas.
A combinação de "Brincar Escutando" e "Colocar Limites e Escutar as Emoções" está rapidamente transformando a vida dessa família. É uma alegria poder acompanhar essa transformação e ver o impacto positivo que essas ferramentas podem ter na vida das famílias.
Se você tem interesse em fazer um processo como este de 4 semanas, tanto individualmente quanto em grupo, mande um email pra mim, marcelo@marcelomichelsohn.com
(Aviso importante: Os textos publicados neste blog têm como objetivo compartilhar informações, experiências e reflexões relacionadas à terapia alternativa ou complementar. Eles não substituem aconselhamentos profissionais, diagnósticos ou tratamentos médicos e psicológicos. Caso você enfrente qualquer problema de saúde física ou mental, é imprescindível procurar a orientação de um profissional de saúde qualificado.)
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